domingo, 19 de junho de 2011

RENDA


Eu havia lido em algum lugar sobre a tua presença e dessa vez não era Caetano.

Era tanta luz. Lembro de ter visto o teu corpo em movimento abraçado com o tempo, e passou. A dança e você se confundindo todo o tempo, a cadência pesada do teu peito. Meu peito tão cheio de coisa pra te dizer, com pontos e vírgulas e muitas interrogações e a boca, sem domínio não disse nada. Alguma voz gritava sobre a noite, estranha, sobre todos os sentimentos que rodeavam aquele espaço de no máximo cem metros quadrados, tantos rostos cansados, tantos peitos em prantos.E todas as palavras não ditas ecoavam de um modo a se confundir com a música que dizia: "pra quê tanta dor?". E você, parado, em meio a tantas saias de renda que se despiam no rodar.


e naquela noite a tua presença ficou marcada, como renda, em mim.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Arquitetônica

Eu faria uma casa
com um par de asas
só para poder voar
e fazer amor
no aconchego do lar


domingo, 8 de maio de 2011

o apartamento nu

é só porque hoje eu fui lembrar de como meus dedos passavam entre os teus longos cabelos e de como a minha boca sorriu ao beijar teus olhos e como teu corpo parecia encaixar no meu.


quarta-feira, 4 de maio de 2011

TEU CHEIRO DÓI

amargo como meu chocolate preferido. vermelho como a minha cápsula protetora, rompida, como a minha máscara, gasta e gasta e gasta. sutil como a luz que entra pela minha janela todas as manhãs.
e presente, com os dois pés fincados no chão.




segunda-feira, 25 de abril de 2011

amor

por dentro e por fora
saindo pelos poros
caminhando nos pêlos
crescendo com as unhas
e os fios de cabelo


julho, 2010.
vermelho
cor da espera
pintei meus lábios
encarnados
me servi um cálice
vinho tinto

e sentei

laço

tu no meu corpo teu
eu no teu corpo meu




março, 2009

quarta-feira, 30 de março de 2011

rastro

devolve o cheiro nu que eu costumava sentir antes do teu perfume grudar aqui.


quarta-feira, 2 de março de 2011

teu perfume é o cheiro da madrugada, tuas tintas são tons terrosos e o teu som é uma espécie de zunido da mata.



"às vezes eu penso que sai dos teus olhos
o feixe de raio que controla a onda cerebral
do peixe"

sábado, 15 de janeiro de 2011

jejum

pela primeira vez acordei com o leve disparo do meu telemóvel, o 'clic' da mensagem de texto. e era uma resposta, das boas. funcionou como um bom dia, o melhor bom dia do ano recém-chegado.

acordei feliz, nem pensei no seu regresso dia 13, como de costume. nem lembrei de todas as coisas que eu havia planejado só pra te conquistar. nem fiquei a imaginar encontros por acaso ou pensei nas viagens que planejaríamos no futuro. só conseguia te imaginar a digitar as leves palavras ao telefone. acordar, me ler depois de uma longa noite e me acordar também. e isso ficou em mim.

nos dias seguintes, todas as manhãs, recebi mensagens, não eram suas, mas sim da operadora do telemóvel. mas em todos os dias o leve disparo me acordou, só por pensar no fato de reviver o momento em que eu te li em jejum.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

" que eu chorei por trás do mar
que é por onde sai a lua
na hora que eu fui pra rua
folia fez festa em mim" (Isaar)


sábado, 1 de janeiro de 2011

sem sentir a batucada no meu peito fui te falando de como eu não sabia chupar manga, da minha pouca idade e da minha não experiência com tudo aquilo. fui me revelando, sem me perceber.
logo te notei, longas madeixas, sotaque do lado de lá e sorriso leve. e depois te notei em mim, soltando borboletas na minha barriga.

e me encantei tão rápido que nem tive tempo de tentar evitar. de não falar contigo sorrindo, de não te olhar toda prosa ou não tentar te desvendar.

e se isso tudo não for nada, não der em nada ou não chegar em canto algum, me sinto desde já extremamente agradecida por me despertar sentimentos tão plenos.