quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

amabicho


eis que o amor faz de nós os mais puro das espécimes
eis que a dor faz do amor o mais cruel do sentimento
então pra que amar, se no fim do corredor há sempre a curva da dor?
pra que a dor, se no meio da ferida sempre tem um remédio que sana?
pras dúvidas eu tenho a exclamação, e pra exclamar eu tenho o peito pulsando forte

feito dragão no meu corpo que às vezes não suporta tanta carga e congela no tempo
nem um beijo de adeus dá, nem um suspiro sinuoso
me perco, e te perco também
mas é só por hoje, por ontem, pra o depois

eu sempre volto, tu sempre voltas
no fim, a gente sempre volta
a ser o início que não se calou


esse eu fiz para o amor, porque eu amo tanto uana que o amor por ela nunca cala
danda. soeur, coeur

domingo, 20 de dezembro de 2009

aquele que enxerga no escuro


e o desejo de morar no seu cangote
por alguns instantes
e adentrar no teu sorrigo já gasto
e trocar
esse sentimento assim

o desejo de me deixar
ser toda desenhada
pra depois te ver
lendo tua minharte
e criando estórias
para a confecção dos meus vestidos de 15 anos
e minhas pérolas
que tu dizes
serem feitas de leite.



sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

"Drink up, baby
Look at the stars.
And I'll kiss you again
Between the bars
Where I'm seeing you there
With your hands in the air
Waiting to finally be caught"



(15:43) venus in furs:

uana

quando as outras pessoas

falam de amor
desse sentimento
eu imagino
como deve ser
sentir uma coisa rosa
ou sem cor

(15:44) venus in furs:

ou com tanta cor

(15:44) venus in furs:

que chega a não ter espaço no seu peito
no seu corpo

(15:44) venus in furs:

que você sente necessidade infinita

(15:44) venus in furs:

de passar pro outro
agora
e em todas as horas
da vida
que tem que ser na vida toda
porque eu nunca me senti assim

(15:45) venus in furs:

e imagino
tenho medo
de nunca me sentir assim
porque por onde eu tenho vivido
onde eu tenho pisado

(15:45) venus in furs:

passado, onde meu coração tem batido
só eu tenho enxergado as cores
parece que os outros tem sido daltonicos

(15:46) venus in furs:

ou fazem questão de derramar um balde d'água gelada

(15:46) venus in furs:

que não só desbota tudo e também tira todo todo o calor
que tinha em mim
e nos meus olhos de fogo

(15:46) venus in furs:

sabe como é?
medo minha flor

(15:46) venus in furs:

muito medo
acho que não sabe não
ou se sabe
sabe em menos proporção

(15:47) venus in furs:

porque tu já amou
e foi amada

(15:47) venus in furs:

não foi como uma coisa falsa plantada em tu
ou nem plantada mesmo

venus in furs está offline.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

estrada que dói


o que é a quantidade quando se fala em intensidade?

três mil quilômetros é muito para quem não quer nada e pouco quando se quer o mundo.
eu sei, depois de tanto eu deveria ter vergonha de expor isso, de me sentir assim, novamente. mas não. já vem de longe esse desejo perene. da espanha, de são paulo, da paraíba, de passos ou da puta que o pariu. e cansa ter que cessar, que esconder, que interromper, cansa.

e não é de hoje que eu preciso conter-me.


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

alumia


depois de quinze anos acostumada em ser lua, lua crescente. eu descubro que, na verdade, uana é luz que pisca no escuro, vagalume.
e agora eu tô desconstruindo essa lua dentro de mim, não que não a ame, mas eu estou me descobrindo mais luz, me fazendo mais de luz.


domingo, 13 de dezembro de 2009

seu nome é deus


isso de gostar, amar, ou acionar qualquer sentimento que se assemelha a uma bomba, tem me feito, desde que me conheço, não terminar quase nada do que eu começo. os livros e textos que nunca terminei de ler, ou escrever e aquelas matérias que nunca terminamos de estudar, o guarda-roupa que nunca está totalmente arrumado e em casa sempre tem algo pra limpar.

ah, essa estranha incompletude da onde vem? da saudade? da falta?

"El Cariño que te tengo
yo no lo puedo negar
se me sale la babita
yo no lo puedo evitar"
(Francisco Repilado)


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

lilás

era como se eu pudesse reviver aquele momento da partida várias e várias vezes. entrar naquele gol branco, avistar o portão laranja e ferrugem e poder ver dois guris acenando como nunca. dois não, um. o outro se ocupava de me invadir com aquele seu olhar que adentra em tudo e em todos.
e era aquele olhar lilás e quando ninguém o avistava, bem vermelho, que havia me embriagado por nove dias. lilás como aquela blusa que viajou três mil quilômetros e que por muito tempo eu vesti o meu corpo e o meu travesseiro.


"esse teu cheiro que existe
só na flora
naquelas flores
que também
contém espinhos"

(Itamar Assumpção)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

salada russa


vejo tantas coisas e pessoas sem lugar. frida decerto tinha seu lugar. mas o mundo, o mundo dos outros, não os do não-mundo os daqui que não, que são e não são daqui, que não sabem, que se perderam nessa confusão de pessoas divididas em cores, nações, estratos, rótulos, e todas tão iguais. ai, esse mundo misto que enjoa, só por girar.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

oito ou oitenta


eu não consigo achar um meio termo pras coisas. não consigo.
não consigo comer uma fatia de bolo. ou não como nada ou como um quase todo. e quando penso em arrumar o quarto, ou arrumo todo - de cabo a rabo, ou não arrumo (como geralmente faço). ou não estudo nada ou quero estudar o assunto do ano todo, fazer todas as questões, tudo de uma vez só.
E isso me incomoda, me frustra, porque não consigo pensar numa característica minha que esteja no meio termo. eu sou sociável demais ou ignorante demais. ou sou super estudiosa e boa aluna, ou não estudo nada e dou uma de "vagabundinha de ensino médio". uma hora eu tive amigos demais no colégio, agora tenho somente à letícia. Quando eu era pequena eu era magra demais, agora me julgo gorda demais. nunca tá certo, nunca tá bom, perfeito.

E quando eu penso no futuro, eu penso nos dois extremos. ou ser bem sucedida demais, rica, com bastante liberdade pra transitar por várias artes, ou até ser intelectualóide demais, macrobiótica, louca de pedra, vivendo de teatro de rua.

será que isso é só meu? ou é mesmo uma característica dessa fase que nunca termina?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

das três almas, parte II


a minha alma irascível
se guarda
e cresce
e incha.

quer destruir
e partir
quebrar até não restar mais nada
cuspir em cima
passar e não ver
olhar oprimindo e enviesadamente
e querer e poder e fazer



odeio - Caetano Veloso

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

dos dias difíceis, das tormentas


o céu já tem cor de natal. e as ruas seu cheiro. as pessoas também já são outras. não pelo "espírito natalino", não acredito nisso, mas pelo fim de outro ano, outro ciclo e o começo de outro se aproximando.
esses dias, apesar do céu maravilhoso e de todo esse clima que se instala, tem sido bem difíceis, difíceis de administrar, de me administrar, principalmente. a escola já vencida, eu já vencida pela escola e pelas minhas responsabilidades autônomas de uma vez.
e o que me faz continuar com tudo isso, o que me faz não entregar os pontos é saber que isso vai terminar, seja próxima semana ou próximo ano. e eu, com toda a minha prontidão, estou a esperar.


"ameixas
ame ou deixe-as" (Paulo Leminski)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

das três almas,parte I


minha alma concupiscível
pulsa morde demora.
e lateja pelo novo denovo
por mais amores
menos dolores e mais dólares
mais amanhãs como o ontem

e mais
i n t e n s i d a d e .

"Se
nem
for
terra
se
trans
for
mar" (Paulo Leminski)

sábado, 28 de novembro de 2009

Prólogo


sábado à noite, mente cheia de incertezas, corpo cansado. necessidade de ser lida, de ser ouvida. fantasmas na rua. não.

vivemos em quatro dimensões. e delas percebemos apenas três. a quarta é o tempo. e desde que o tempo é tempo nós vivemos dele, para ele, contra ele. Fazer, ser, acontecer. tempo. ter, ver, sentir, ouvir, tempo. viver, morrer. tempo. amar. tempo? O tempo guiaria o amor também? Com o tempo nós sentiríamos o amor também? O tempo seria, então, um fator determinante no amor? E a intensidade, o bulbo, não contaria?

não, tempo. já me basta a idade, e as rugas que estão por vir, os ônibus e as aulas que já perdi. não, o amor não.